Month: October 2015

Engenharia de Usabilidade

norma62366A maioria das empresas entende os riscos que correm em lançar um produto com uma usabilidade ruim. Elas sabem que, no fim das contas, terão um preço a pagar – seja ele em modificações de alto custo, insatisfação do cliente, grande número de atendimento ao cliente, alto número de chamadas de serviço, reclamações, perda de produtividade, recalls e perda de receita.

Mas para alguns tipos de indústrias, as apostas podem ser bem mais elevadas. Para empresas desenvolvedoras de equipamentos médicos, uma usabilidade ruim pode ser literalmente uma questão de vida ou morte. Em um relatório publicado pelo FDA, mais de um terço dos incidentes envolvendo dispositivos médicos tinham envolvidas questões de usabilidade e, em média, 195.000 pessoas morrem nos hospitais americanos anualmente por causa de erros médicos. Não são em todos os casos de erros médicos que podemos atribuir a problemas de design e utilização, mas é de se constatar que interfaces de equipamentos médicos tem se tornado cada vez mais complexas e, sem dúvida, podem contribuir e muito para o problema.

A norma ABNT NBR IEC 62366: Aplicação de Engenharia de Usabilidade para Produtos para a Saúde é um padrão internacional que aponta diretamente para redução do risco de erros na utilização de produtos para a saúde, focada para fabricantes, para ser aplicada durante o desenvolvimento do produto.

Em resumo, a norma é um padrão baseado em processo que visa ajudar os fabricantes de produtos para a saúde no seu projeto incluindo usabilidade e excluindo erros de utilização. A norma também se aplica a toda a documentação que pode acompanhar um dispositivo, e para o treinamento dos usuários pretendidos.

Vale ressaltar que a norma ABNT NBR IEC 62366 se aplica a qualquer produto para a saúde, tem uma abrangência maior que a ABNT NBR IEC 60601-1-6, que se aplica somente a equipamentos eletro médicos. Porém seu conteúdo e requisitos são os mesmos, pode ser verificado que a norma 60601-1-6 aponta diretamente para a 62366.

Os fabricantes devem adotar um processo de design centrado no usuário (chamado de Processo de Engenharia de Usabilidade na norma) que abrange o ciclo de vida do projeto e desenvolvimento do dispositivo. Para estar em conformidade, os fabricantes devem documentar o processo em detalhe e apresentar em um arquivo de Engenharia de Usabilidade.

As definições e requisitos normativos compreendem apenas 6 páginas. Em sequência o documento da norma apresenta mais 80 páginas com anexos e exemplos, extremamente úteis para melhor compreensão dos fabricantes.

O processo de análise de usabilidade não deve ser uma avaliação de satisfação ou composto simplesmente por grupos focais, recolhendo opiniões dos clientes, ou somente um teste no final antes do lançamento do produto.

O entendimento sobre usabilidade na indústria de equipamentos médicos e nos órgãos certificadores pode ainda não ser exatamente o mesmo. Para alguns, o processo de usabilidade pode ser considerado simplesmente como um item de um “check list”. Empresas podem muitas vezes pensar em considerar uma avaliação de usabilidade somente no final, como são os ensaios clínicos pré-mercado ou os testes de segurança ou desempenho elétrico. Porém, o processo de Engenharia de Usabilidade deve ser construído dentro do processo de desenvolvimento do produto, sendo o design centrado no usuário. Seguindo os requisitos normativos, o fabricante deverá especificar as funções do produto, os grupos alvo de usuários e suas características, apontar as tarefas críticas e situações de risco, definir as especificações de usabilidade, criar o plano de validação de usabilidade, realizar a verificação e validação final da usabilidade do produto. O processo de Engenharia de Usabilidade é um processo que deve ser iniciado dentro do gerenciamento de risco do fabricante e deve estar alinhado a ele sempre, seguindo as escalas de severidade e riscos residuais.

Fonte: www.userfocus.co.uk/articles/ISO62366.html


Caso: Problema de usabilidade do dia a dia

Category : Blog

Carregando o celular no carro

Cambio

Vamos começar a compartilhar aqui no site, mais informal, casos do dia a dia em que identificamos problemas de usabilidade. O objetivo não é colocar um produto ou marca em evidência, e sim buscar um melhor entendimento sobre os conceitos relacionados à usabilidade, vendo pelo lado da falta dela, na maioria das vezes.

Começo então com um caso que ocorreu comigo, alguns dias atrás…

Estava eu em viagem e trabalhando nos e-mails pelo celular. Então eis que a bateria do cel dá sinais de que vai me deixar. Procuro em minha bolsa, e ufa! Estava com o carregador para carro!

Mas o carro em que eu estava era um carro diferente de todos os que já andei, bem moderno, cheio de botões, telas, painel lindo e todo automático!

Pois bem, para não distrair o motorista, procurei eu mesma o local do “acendedor de cigarros” para colocar meu celular para carregar.

Vou descrever aqui o que vem em minha mente quando penso em uma tomada para carregar meu cel no carro (É IMPORTANTE ENTENDER O MODELO MENTAL DO USUÁRIO): “orifício circular, preto, onde ou tem uma tampa ou algo que o deixa sempre coberto ou tampado. Pode ser um led ao redor que irá acender quando eu plugar meu celular ou não. O objetivo é plugar meu carregador lá e obter energia (POWER) para carregar meu celular durante a viagem.”

Outro detalhe importante é o local mais provável de encontrar essa tomada (TAMBÉM IMPORTANTE NO ENTENDIMENTO DO MODELO MENTAL), procurei próximo do rádio, no painel do carro ou próximo do freio de mão e do câmbio.

Ok, eis o que eu esperava.

carregador_3

Pois então encontrei um orifício parecido com o que eu esperava, só que não tinha essa tampa. Estava escrito POWER na parte de cima e era circular e do mesmo diâmetro que eu esperava encontrar para colocar meu carregador. A princípio eu não entendi muito bem se era uma tampa ou só uma cobertura que se abriria quando eu colocasse o carregador nele.

Essa foto abaixo é a foto do que eu encontrei no carro onde estava, e ao colocar meu carregador… desliguei o carro completamente!

No fim das contas, não era o “acendedor de cigarros” e sim o botão de liga e desliga do carro! Realmente muito moderno o modelo do carro, porém inconsistente com a experiência prévia do usuário, com o que eu esperava de um botão liga e desliga e com o que eu esperava de um acendedor de cigarros (ninguém acende mais cigarros nisso, mas acho que acabou ficando esse o nome mesmo mais conhecido).

Ainda bem que estávamos em um congestionamento no meio da Fernão Dias, carro praticamente parado e não ocorreu nada grave! Não me lembro em qual marcha o carro estava para poder dizer se realmente é possível desligar o carro a qualquer momento, ele estando em movimento, só pressionando esse botão!

carregador_4

O que acham?

Podemos dizer que foi mesmo um caso de problema de usabilidade no design??